A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DO GÊNERO BILHETE: UM CAMINHO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO

sonia maria deliberal

Resumo


A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DO GÊNERO BILHETE: UM CAMINHO DE APRENDIZAGEM PARA O ALUNO SURDO

Sonia Maria Deliberal

Professora da rede estadual

Mestranda de língua portuguesa – PUC SP

e-mail: Kamilio.deliberal@terra.com.br

RESUMO

Este trabalho tem como proposta a transposição didática do gênero bilhete para aprendizagem do aluno surdo. Procura responder, por entre os caminhos, o mais adequado para a transformação do conhecimento científico em um saber a ser ensinado numa concepção interacionista. Para base teórica, destaca-se Quadros (1997) que coloca que os alunos surdos precisam dominar a língua de sinais (LIBRAS L1) porque é por meio dela que eles aprendem à necessidade do uso de palavras, frases e orações, como também, como situá-las num contexto dentro dos parâmetros de L1; Vygotsky (1993) acredita que o desenvolvimento das bases psicológicas para o aprendizado de matérias básicas não precede o aprendizado, mas se desenvolve numa interação contínua com as suas contribuições; Para Bakhtin (2015) há uma infinidade de gêneros em uma sociedade e, por meio deles, a construção do significado e da negociação dos sentidos são construídos; Bechara (2009) e Neve (2001), como fonte de pesquisas, foram consultados tanto aos itens lexicais, gramaticais, quanto ao uso e as normas que regem o funcionamento do sintagma ao texto; a fonte base de Libras é de Honora e Frizanco (2009); e a transposição didática, entendida como o processo de transformação que ocorre na passagem do conhecimento científico para o sistema de ensino, e, depois, para o plano didático, confirmado por Almeida (2007). Participaram das atividades, três alunos surdos do sistema regular de ensino, para os quais foi proposta uma sequência didática para trabalhar o gênero bilhete, incluindo as palavras cruzadas, utilizando os signos de L1 para L2; caça-palavra em L2; relação de colunas, sendo a primeira em L2 e a segunda em L1; escrita significativa: signo de L1 e seu correspondente em L2. As análises da produção inicial e da final mostraram que o caminho percorrido foi adequado, atingindo o objetivo proposto.

Palavras-chave: Transposição didática. Gênero bilhete. Surdo.

 

INTRODUÇÃO

A língua portuguesa escrita (L2) apresenta-se por meio de sinais gráficos visíveis, que, em um primeiro contato, tem uma concepção abstrata para o surdo. Devido à ressignificação de L2 para objeto de conhecimento, se faz necessário incluí-la na vida acadêmica do deficiente auditivo, para que ele se aproprie e a utilize nos diferentes gêneros escritos. Essa mudança exigirá um trabalho contínuo para que haja uma consolidação dos conceitos básicos de L2.

A proposta tem como objetivo um trabalho com a escrita do gênero bilhete, partindo dos vocábulos de L1 para construir o signo linguístico e ampliar o vocabulário do aluno surdo em língua portuguesa (L2).

Tendo como referência L1, foi desenvolvida uma sequência didática para auxiliar na transferência do signo, de L1 para L2, e paulatinamente, foram acrescentados vocábulos para assimilação e consolidação da relação L1 e L2.

Com a inclusão dos verbos e do pronome pessoal Eu, mostraram-se as regras de uso em L2. Para tanto, utilizaram-se várias atividades interativas em contextos diferenciados. Nesta etapa a estrutura do gênero já se apresentava na transferência de L1 para L2.

A pontuação foi explorada pela entonação de L2 em um contexto de L1, em atividades interativas por meio de textos lacunados. O mesmo caminho foi aproveitado para as preposições, que não fazem parte do contexto de L1, mas necessárias para a união dos termos em L2. Para finalização do caminho, foi realizada a nomeação dos elementos do gênero bilhete.

Como avaliação, houve a comparação entre a primeira e a última produção escrita para indicar os avanços do aluno surdo em L2.

REFERENCIAL TEÓRICO

Entende-se a transposição didática como o processo de transformação, que ocorre na passagem do conhecimento científico ou de saberes científicos para o sistema de ensino, e depois, para o plano didático. Para auxiliar o professor na adaptação do conteúdo científico ao saber ensinado, a sequência didática é uma forma eficaz, já que permite a adaptação do saber para as salas de aula.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) sugerem o uso de diversas situações comunicativas para relacionar o conteúdo e o objetivo do sistema educacional ao sistema de ensino e ao didático, e propõe atividades que podem proporcionar um progresso curricular com a integração de habilidades.

Entrelaçando as ideias expostas, escolhe-se o ensino do gênero bilhete em uma sequência didática no processo ensino-aprendizagem destinada ao aluno surdo.

A sequência didática é composta de atividades de conhecimento a ser ensinado e tem como objetivo em L2 de: incorporar o léxico, utilizando libras como meio de comunicação; apreender e aprender o uso dos verbos na primeira pessoa do presente do indicativo; compreender os elementos constituintes da oração; apreender e compreender a estrutura dos elementos composicionais do gênero bilhete; apreender e compreender os elementos linguísticos do gênero bilhete; conhecer, compreender e reconhecer o uso das preposições; observar, compreender e reconhecer o uso da pontuação; utilizar e relacionar os objetivos anteriores e escrever um bilhete.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1- descrição

Tendo por modelo um bilhete, foram formadas várias atividades dentro de uma sequência didática.

2- atividade

A proposta é escrever um bilhete, conforme os requisitos: destinatário, tema, despedida, nome e data.

Após a primeira produção do bilhete, inicia-se a análise para conhecer as capacidades de escrita já existente e as possíveis potencialidades do aluno surdo.

Para a primeira produção do “bilhete”, foi solicitado, em L1, aos participantes, que escrevessem, em L2, um recado para a mãe pedindo dinheiro para irem ao shopping e, com esses corpora, inicia-se a análise para conhecer as capacidades de escritas, já existentes, e as possíveis potencialidades do aluno surdo.

A produção apontou: a ausência da língua portuguesa, somente para representar shopping foi utilizada a dactilologia do sinal, que inclui a letra p; mesmo sem o uso da escrita de L2, há uma similaridade com a oração de L2 (SVO) e em L1 (OV); ausência da data, destinatário e o nome; nota-se a presença do signo linguístico.

Após a análise, chega-se a conclusão que: não há aquisição do léxico de L2; a formação da oração (SVO) não foi usada; e omissão de verbos, conectivos e pontuação de L2.

Tendo-se observado essas questões, foi proposta uma sequência didática com a duração de três meses, sendo um encontro semanal de duração de 100 minutos.

3- Recursos didáticos:

Palavras-cruzadas: utilizando os signos de L1 para L2; relação entre colunas: a primeira em L2 e a segunda em L1; e escrita significativa: o signo de L1 e seu correspondente em L2.

Análise dos dados:

Na segunda produção, nota-se: a presença de vocábulos de L2; as orações escritas dentro das regras de funcionamento e de uso; a conservação da estrutura do gênero bilhete; e todos os elementos do gênero bilhete.

CONSIDERAÇÕES

Conclui-se pelos resultados, que, por meio da sequência didática, o aluno surdo mostrou ser capaz de avançar na assimilação significativa e na apreensão do bilhete em L2, interligando a estrutura linguística de L1.

 Atividade inicial: 

 

Atividade final:

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Transposição didática: por onde começar? São Paulo: Cortez, 2007.

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

BRASIL Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares. Brasília: MEC, 1998.

HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais. São Paulo: ciranda Cultural, 2009.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. 2. Ed. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

QUADROS, Ronice Muller. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. São Paulo: Artmed, 1997.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Obras Escogidas II. Conferências sobre Psicologia. Madrid: Centro de Publicaciones Del M.E.C. y Visor distribuciones S.A., 1993.

 

 

 

 

 


Palavras-chave


deficiente visual; aprendizagem;sequência didática

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Referências


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Transposição didática: por onde começar? São Paulo: Cortez, 2007.

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

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HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro ilustrado de língua brasileira de sinais. São Paulo: ciranda Cultural, 2009.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. 2. Ed. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

QUADROS, Ronice Muller. Educação de Surdos: a aquisição da linguagem. São Paulo: Artmed, 1997.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. Obras Escogidas II. Conferências sobre Psicologia. Madrid: Centro de Publicaciones Del M.E.C. y Visor distribuciones S.A., 1993.


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